Por Que Insistem em Chamar a Diversidade Humana de Atípica?
- CHAT21

- 3 de jul.
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Atualizado: 7 de jul.

A forma como nos expressamos e os termos que utilizamos têm um poder imenso na construção social e na forma como percebemos o mundo. No contexto da deficiência e da neurodiversidade, essa discussão se torna ainda mais crucial. Recentemente, o termo "atípico" tem sido amplamente empregado, especialmente para se referir a indivíduos com deficiência. Mas qual a origem desse termo e será que ele realmente nos ajuda na construção de uma sociedade mais inclusiva?
Atípico X Neurodiversidade: Por Que a Linguagem Importa?
A palavra "atípico" significa "que não é típico; fora do tipo comum ou normal". Ao longo do tempo, foi sendo utilizada para descrever características ou condições que fogem ao padrão majoritário. Contudo, quando aplicada a pessoas, a conotação de "não normal" ou "fora do padrão" pode carregar um peso de segregação, reforçando a visão de que existe um "típico" ideal ao qual deveríamos nos encaixar.
Foi nesse cenário que surgiu o conceito de neurodiversidade. Cunhado pela socióloga Judy Singer em 1998, o termo neurodiversidade defende a ideia de que as variações neurológicas naturais da mente humana, assim como a diversidade de cores de pele ou de gêneros. Ou seja, a neurodiversidade é um fato biológico, uma parte da variedade natural da população.
A partir desse conceito, nasceu o termo neurodivergente para descrever indivíduos cujos cérebros funcionam de maneira diferente da maioria (os neurotípicos). Essa mudança de perspectiva é fundamental, pois sai da ideia de "déficit" ou "anormalidade" para uma visão de diferença e diversidade.
Para Além dos Rótulos: Minha Perspectiva como Mãe
Entendo a importância de agrupar pessoas com experiências semelhantes para que haja união e força na luta por direitos, leis e políticas públicas. É inegável que a formação de comunidades e grupos de apoio tem sido fundamental para avanços significativos na inclusão e na conscientização sobre as deficiências e condições neurológicas. A união dessas vozes garante que as necessidades específicas sejam ouvidas e atendidas.
No entanto, como mãe, confesso que não me identifico com a classificação de "mãe atípica". Embora reconheça o esforço em criar um termo que tente abranger e unir pais de crianças com deficiência, para mim, ele soa segregador. Ele cria uma divisão onde, na verdade, somos todos pais. A condição genética ou deficiência da minha filha não define a minha maternidade. A maternidade é um ato individual e pessoal, que envolve seus próprios conceitos, a forma com que fomos criadas, a cultura, os padrões sociais e financeiros. Não há como definir o que é "típico" ou "atípico" na maternidade. O que existe é uma filha com especificidades que precisam ser endereçadas. Isso faz minha maternidade diferente? Não vejo. Na prática, levar minha filha na fonoaudiologia ou na terapia ocupacional tem o mesmo valor que levar uma criança na aula de reforço de matemática; ninguém está sendo "atípico".
Não me vejo como "atípica" por ter uma filha com deficiência. Minha filha é neurodivergente, sim, e pasmem, nesse processo com ela descobri que eu também sou, pois tenho dislexia. Ter uma filha com deficiência não me torna uma mãe "fora do comum". Sou apenas mãe, como tantas outras, com as minhas particularidades e desafios, mas também com as minhas alegrias e aprendizados diários. Não julgo quem se vê nesse lugar, afinal, a maternidade é uma visão pessoal e individual para cada um. Mas uma coisa é se identificar como grupo de mães de crianças com deficiência, que sim, têm suas barreiras para enfrentar; outra é ser classificada de "atípica" por isso.
O uso de termos como "atípico" pode, inadvertidamente, reforçar estereótipos e a ideia de que existe algo "errado" ou "fora do lugar". E isso vai na contramão do que a própria neurodiversidade propõe: a valorização das diferenças e o entendimento de que a diversidade é a norma, e não a exceção.
Acredito que, ao focar na neurodiversidade, podemos construir um diálogo mais inclusivo
e menos estigmatizante. É crucial, inclusive, a importância de usar o termo "deficiência" e as terminologias corretas. Afirmar que existe deficiência é o que assegura os direitos da criança. No entanto, isso não deve ser visto como um ato "atípico". Dá para entender como, sem querer, acabamos nos prejudicando e nos anulando nas próprias palavras? Por isso, é tão importante nos entender dentro do nosso contexto social e servir de exemplo, mostrando que a diversidade é a norma e que a inclusão se constrói também com a força da linguagem. Afinal, a beleza do ser humano reside justamente na sua pluralidade e não ha nada de atípico nisso.
Gabriela Laborda
Fundadora do Chat21
E você, qual a sua opinião? Sinta-se à vontade para comentar e compartilhar suas reflexões. Nosso espaço é feito para o diálogo e a troca respeitosa sobre a diversidade humana.






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